O "segurança" Jorge

Descobri que não sei lidar muito bem com a morte, é uma dor silenciosa, o meu conhecimento vai além das palavras pois é através delas que muitas vezes conhecemos mais de um ser humano...mais da outra pessoa,do que lhe vai no pensamento,dos seus anseios,de como realmente essa pessoa é. Conheci o Jorge á cerca de doze anos,quando ele era funcionário da empresa de segurança Grupo 8...estava na "casota" como ele lhe chamava á entrada dos Serviços onde trabalhei anos e anos...tinha sempre uma palavra,um bom dia,um "como vai o nosso desenhador...",um "com o devido respeito,cumprimente sempre as suas colegas...elas são a lufada de ar fresco neste trabalho...".Entrei de licença sem vencimento e por vezes aos Domingos tinha que ir ao gabinete tirar cópias "ozalid",organizar processos de vistorias,aprovar processos de obras...o Jorge estava lá.Nunca levantou um problema quando eu entrava.Era um amigo,tanto como eu era amigo dele.Saíu do Grupo 8 e concorreu aos Serviços...foi colocado como primeiro na lista de concurso.Afastei-me mais dos Serviços e encontrei-o no hiper Modelo,um dia...com um cesto de compras carregado de grades de cerveja Sagres..."são as melhores e são para o meu café...aluguei um café,devia estar maluco...",dizia ele.Encontrei-o mais tarde em Lisboa....a mãe morava na Avenida Almirante Reis perto do Chile,onde mora o meu "herdeiro"...".Falamos com de tantas outras vezes "...estou no quadro de pessoal dos Serviços e tenho o tal café",disse encantado...Perdi-lhe o "rasto" durante cerca de um ano...já não o vou ver mais...o Jorge.

Um cancro galopante acabou com a sua vida em três meses...Soube ontem...Descobri que não sei lidar com a morte...Nem pouco mais ou menos e está tão certa.

[ ouvindo mp3...Dire Straits - "Brothers in arms" ]